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Exposição Tempo

Tempo - Coletivo
Período: 07.08 a 31.08 de 2019
Artista: Coletivo


Curadoria
KinJin e Estudio Bala

Expografia e Montagem
Anna Barreto

Sobre a Exposição

Cronos não é o tempo do relógio, cronos é o tempo real. E tempo real é medido pelo deslocamento do ser humano em direção ao ideal humano. 

O Tempo como ideal humano no plano da alma não envelhece no sentido de tirar atributos, pelo contrário, ele dá atributos, enquanto no corpo ele tira esses atributos. Cada dimensão tem a sua lógica própria e a nossa percepção é a lente que enquadra e delimita, como em uma máquina fotográfica, a realidade. Através do olhar captura o instante presente do tempo. 

A exposição de fotografia analógica permite observamos a realidade com mais calma, desprendido da velocidade do comportamento contemporâneo, até pelo processo analógico que vai contra os primórdios de Cronos. A fotografia analógica tem em si o seu próprio tempo e através do olhar o presente torna se eterno pela imagem. 

O poder do fotógrafo de paralisar o tempo e registrar esse recorte é visceral na "oitava arte".Ele é o herói que luta contra Cronos nesta batalha. A vitória está na criação da imagem que torna-se memorável ao ser humano, abrindo possibilidades para nós entrarmos em contato, segundo Sto Agostinho, com a Alma. O registro da imagem conforta e afirma nossa existência nesse plano terrestre. A imagem traz a memória afetiva e relata a história espacial do ser na guerra contra Cronos. 

A indicação de que há um tempo cronológico através do movimento é praticamente a única maneira para se falar disso, mas restringe a temporalidade a um deslocamento no espaço. O Tempo não necessita da linguagem da fotografia para transbordar em si, pois torna se parte, tanto na sua própria origem quanto no seu destino, a escolha do assunto retratado pode ser como o tempo é conduzido para dentro da fotografia pela subjetividade do fotógrafo e do espectador. 

A curadoria conduz o espectador a questionar "o que é O TEMPO?" A mostra apresenta obras fotográficas com distintos recortes sobre a proposta do tema; fotografias tiradas com tempo de exposição bastante curto e fotografias captadas com a abertura do obturador mais longa. 

Giovanni Gancia apresenta em sua obra "Rush - 2018", um jovem pendurando em uma porta de ônibus em movimento na Índia, uma forma poética de representar a relação do ser dentro do espaço e tempo. Rodrigo Pires condiz na sua obra "Segunda-feira - 2018", o recorte do cotidiano humano, apressado nas linhas metroviárias, um diálogo visual com a estética urbana. 

A longa exposição faz que mesmos assuntos estando em alta velocidade pareçam congelados ou borrados, ambos autores tratam "O TEMPO" como algo real, palpável e presente, por essas obras conseguimos ver o TEMPO de forma concreta. 

Em uma outra esfera analítica, na obra de Guto Garrote "Espera na República - 2019" a fotografia nos direciona a imaginar o tempo como o relógio analógico e contínuo, despertando uma analogia com os "segundos do relógio", as colunas da arquitetura brutalista, fragmentada pela presença do ser humano alheio à pressa, como uma pausa no cronômetro do tempo. Julia Brasil com a sua obra "Foto n°3 - 2019", nos leva a questionar através da sua proposta o ser em suspensão que pode ser a promessa de evolução ou início da decadência. Neste estado de contradição é que reside a possibilidade de transformação, o "devir”. Esta força, a qual se submetem todos os seres vivos marcam a passagem do tempo. Uma obra que busca refletir sobre a ação deste tempo, o que amadurece, multiplica, apodrece e transforma. Victoria LoRe em sua obra "Deterioração - 2017", afirma que o Tempo deteriora cada pedaço de cada ser ou objeto aqui presente. Todos estamos predestinados a bater de frente com o relógio, nos olharmos no espelho ou a nossa volta e perceber o tempo agindo de forma silenciosa e ensurdecedora. O tempo caminha em nossa direção nos permitindo desfrutá-lo enquanto nos transforma em seus reféns. Nós somos reflexo do tempo. E tudo que existe é reflexo de nós. 

Celso Palermo, com a obra "Um olhar que procura - 2019", relata: As fotografias que compõem essa imagem representam a possibilidade de se construir uma narrativa visual, que nos apresenta uma temática particular sobre a condição humana. Estamos aqui por um determinado tempo e esse tempo tem fim. Nessa narrativa as fotografias sugerem várias interpretações, como a passagem do tempo, a morte, a busca pela juventude, ou pela maturidade; mas também nos faz pensar que a fotografia não só nos remete ao passado como, também, pode nos remeter à uma reflexão sobre o nosso futuro. Talvez essas imagens, que compõem esse tríptico, possam nos fazer "buscar saber mais daquilo que nos fascina", mais sobre a vida que vivemos, sobre o mundo em que vivemos, enfim, mais sobre o nosso futuro. Nathalie Bohm, com a obra em pinhole " Pode deita-se - 2018", conduz o espectador a olhar as possibilidades da dualidade presente na natureza humana. 

As obras, nessa esfera não permeiam no limite da linguagem fotográfica, buscam alusões em suas narrativas, seja através de algum signo ou simbologia, são obras que dependem de uma decodificação abstrata - a memória, seja ela afetiva ou comparativa, porém traz consigo a interpretação do espectador o recorte do passado em uma experiência da observação no presente da imagem. 

O passado e a memória não se conservam; constroem-se. É, assim, surpreendente que ainda se coloque sobre a fotografia a responsabilidade da preservação da memória. É de se notar que a onipresença temporal da fotografia não se restringe ao passado e presente, estende-se também ao futuro. Embora a fotografia possa ter um importante papel na conservação de certas informações que acabaram por integrar a memória, essa mesma memória é, talvez, tão devedora da imaginação, aquela que cria mundos, quanto aquela que re-apresenta os resultados da percepção. A imaginação é o desejo e se define em função do que ainda não é. O que se acredita ter visto no mundo e o que se deseja ver no mundo estão em simbiose na fotografia a tal ponto que se poderia falar de uma projeção do passado tanto quanto de uma memória do futuro. 

Curadoria
KinJin