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Mostra Individual “Restos de Mim” por Alberto Prado

Abertura: 24.11.2020
Encerramento: 22.11.2020
Artistas: Alberto Prado

Curadoria
KinJin e Larissa Lanza

Expografia e Montagem
Anna Barreto

Rua Patizal, 76 . Vila Madalena . SP

Sobre a Exposição

Segundo o Dicionário Aurélio:

RESTO
substantivo masculino;
O que sobra, o que fica de um todo de que se retirou uma ou várias partes; aquilo que resta, que permanece; remanescente;
fragmentos, traços daquilo que foi arruinado; ruínas, destroços; coisas que sobraram; sobras.

Segundo o artista Alberto Prado: restos são partes que possibilitam trazer o todo de volta.

E foi do pó, do lixo da marcenaria, que surge a série “Restos de Mim”, em 2018. Série essa que entrou em hiato por dois anos e, em plena pandemia de 2020, Alberto encontrou refúgio nas obras.

Alberto Prado, nascido em São Paulo, é designer gráfico de formação, fotógrafo de alma e marceneiro por paixão. Teve início na fotografia, onde tem a maior parte de sua produção até os dias atuais, porém, foi na marcenaria e com a produção das molduras que encontrou sua poética.

Buscou sempre ser “fora da caixa”. Buscou sempre ser diferente. Mas as caixas estavam ali. O tempo todo ali. O tempo todo trazendo suas fotografias para dentro delas.

A mostra “Restos de Mim” traz o outro lado do fotógrafo do projeto ElaCrua. Numa linha cronológica e transitória, visa mostrar o artista para além da fotografia. O lado complementar e contrastado de dois materiais: a fotografia e a madeira que se conectam através do artista.

“Restos de Mim” não é apenas síntese, como seu nome sugere. É verdade que não pode haver lá onde o mundo está ainda intacto, e não há portanto pedaços quebrados do mundo a não ser “o espelho” do artista. Restos caem e sempre voltam para dentro da caixa. O espelho é o gesto de mundo despedaçado. Onírica interpretação que pressupõe, não obstante, também a arte em madeira. Porque não se trata, apenas de querer consertar o mundo, mas também de destruir um mundo intolerável, antes de tentar consertá-lo. A série é a destruição de códigos detestáveis, vazios, afim de reformulá-los em códigos desejáveis. Alberto não contenta-se com os pedaços do mundo em ruínas que o cercam: ressignificar tais pedaços, sobras, para delas construir um mundo novo seria “reação” no sentido exato do termo, seria a tentativa de reconstruir um mundo que ruiu. O artista é conduzido efetivamente a propor alternativas ao “triste esquema das coisas”, de recolher os objetos encontrados em seu entorno, com o propósito de torná-los aptos a servirem de elementos. Por não poder contentar-se com “objets trouvés”, por ter recurso à sua imaginação, é o artista o espírito que “revoluciona” a matéria que lhe é objeto.

A madeira é o instrumento da razão: define. Aos restos são fenômenos inseridos no contexto que Alberto recolhe tais fragmentos como gesto racional de agrupar los sem impor distinção ao mundo, é pois este, o clima existencial das suas obras. Neste sentido, são elas o exato oposto da fotografia o qual se curva humilde perante o seu olhar, como o ser no centro de um mundo despedaçado. É a moldura instrumento da arte num significado fundamental do termo: artifício, artimanha. O artista parece ser íntegro sem sê-lo, e a moldura cria a ilusão de integridade ao manipular as feridas abertas. Não sara, nem salva: fecha a boca dos abismos. Finge salvação e sanidade no Inferno de Dante. A moldura realmente estabelece relação dificilmente dissolúvel, entre elementos separados, entre a obra fotográfica e os resíduos da madeira.

O resultado da ação da moldura é “síntese real”, se por isto é um significado fundamental do termo “arte”: criar algo novo. Quem pois se aproxima da moldura, estará exposto simultaneamente a intenção do artista, através dos objetos sugeridos da dialética entre a fotografia e a madeira, entre razão definidora e imaginação criativa. Portanto não é nem análise da situação, nem obra de arte: é o híbrido das duas. É ela crítica dos códigos, desejos que nos condicionam e formam o mundo codificado despedaçado dentro do qual vivemos. Enquanto obra de arte, é ela códigos novos e liberadores. Ressignificar o mundo é uma busca contínua separada por uma linha tênue entre a fotografia e a marcenaria, é nessa linha que Alberto transita entre “a caixa” de si mesmo.

KinJin e Larissa Lanza

Curadoria