Colaboração

 

A colaboração como um salto para inovação
Mas o que é colaboração?

Mária Švarbová

Mária Švarbová

A colaboração se dá através da aprendizagem social, isto é, a união e diversidade dos pontos de vista, aliadas à vontade de mudar, criam processos que desenvolvem a geração de conhecimento. Compondo um cenário de inovação, à medida em que envolve a solução colaborativa, com a difusão de conhecimentos e meios para alcançar os resultados desejáveis.

Neste artigo, investigaremos a colaboração como intermédio de dois cenários iniciais e suas consequências inovadoras: a cognitividade potencializando novas dinâmicas de trabalho; a economia colaborativa e novos meios de consumo. 

Mostraremos, por meio dos contextos citados, um olhar sobre o conceito de rede, apresentando perspectivas referente à conexões e como estas são capazes de tornar a inovação acessível, espontânea e colaborativa.

Aspectos essenciais para colaboração

Comecemos, então, pela cognitividade: a função psicológica relativa ao processo mental de percepção, memória ou raciocínio de cada pessoa, ou seja, o pensamento e consciência são os reflexos de experiências individuais. Em contrapartida, quando abordamos o tema colaboração, surge o questionamento referente ao coletivo, vivências compartilhadas e etc. Para isso, o psicólogo Ken Wilber disserta sobre um modelo para compreender, primeiramente, a si próprio e, posteriormente, o demais dentro dos cenários os quais estamos inseridos.


Fundamentado na consciência, Wilber desenvolveu a Teoria Integral, estabelecendo quatro principais quadrantes abrangendo aspectos exteriores-individuais, estudados na neurologia e ciência cognitiva (superior direito); fatores exteriores-coletivos, abordados pela sociologia (inferior direito); os interiores-coletivos, investigados pela psicologia cultural e antropologia (inferior esquerdo); e os interiores-individuais, analisadas pela psicologia do desenvolvimento (superior esquerdo).

Dessa forma, nota-se se que a consciência individual (superior esquerdo) navega entre os outros quadrantes, mostrando que esta é condicionada não apenas pelo cérebro físico, mas também por influências culturais e sociais. Tendo em vista as variadas intervenções diante da consciência individual e os cenários voláteis e tecnológicos no qual estamos inseridos, Ken Wilber ressalta, ainda, a importância da mudança de mindset. O psicólogo a considera o mecanismo que possibilita a evolução da consciência, sendo a ponte para transformação de perspectivas diante de nós mesmos e sobre o mundo; o coletivo. Esse último é considerado por diversos autores, a um salto para a inovação.

Rede colaborativa

Segundo Uzzi e Spiro (2005), a partir de pensamentos distintos, a criatividade e inovação são estimuladas por meio de trocas, as ‘’tensões criativas derivariam não de esforços solitários de indivíduos a sós, mas sim de um sistema de relações sociais’’ (GARCIA, 2017). Quando trazemos a questão dentro do contexto laboral, a inovação manifesta-se não somente em produtos ou recursos, mas também nas relações entre pessoas. No cenário onde há novos problemas para resolver, faz-se necessária novas soluções a partir da adaptação na forma de agir e pensar, com isso, há a ressignificação de equipes onde a interdependência traz lideranças circunstanciais, o cultivo de relações, novas formas de trabalho e, como resultado, o pensamento em rede.

Uma das referências sobre sistemas distribuídos é Paul Baran, um dos atores principais da criação da internet ao criar, em 1964, uma rede com forma de uma teia para manter a comunicação distribuída durante a Guerra Fria. Com isso, percebeu que a rede centralizada era vulnerável pelo fato de, caso o sistema central fosse atingido, todas as ligações (seriam) destruídas. Nas três simulações sobre conectividade, Baran apresentou a conectividade de um conjunto de nós com graus variados de ligação, onde a única mudança eram as conexões entre eles. 

O diagrama ‘’C’’ mostra, de forma distribuída, a intercooperação entre os nós e a redução dos riscos de destruição:

Tendo o cenário organizacional como base, a partir de um sistema interdependente, onde todos pontos são atingidos de forma equivalente, é necessário uma visão ampla que impacte positivamente os âmbitos principais da sociedade. Dessa forma, a teoria de Lala Deheinzelin vai de encontro com responsabilidades sociais, financeiras, ambientais e culturais considerando cenários exponenciais: o intangível e tangível juntos, definido como Fluxonomia 4D.

Para prosseguir com o tema central, Deheinzelin aborda a colaboração como ponto de partida para uma nova economia. De forma crítica, a futurista apresenta o assunto como modelo de gestão dentro da dimensão social, baseado no fluxo de iniciativas conectadas e convergindo potências por meio da gestão distribuída e processos em rede.

Diferentemente da associação comum entre economia colaborativa e compartilhada, a criadora da Fluxonomia 4D diferencia as ciências a partir da tangibilidade. Dessa forma, a economia colaborativa é onde todos participam de determinado processo e havendo crescimento exponencial a partir do não-intangível. A mudança de mindset torna-se fundamental pelo fato de que o consumo centralizado é tangível e escasso, tendo em vista o processo de desenvolvimento deste: comando e controle. Já o distribuído é abundante, migrando a focalização do tangível pelo intangível: o consumo do valor, não relacionado à posse, sendo produzidos por meio da liberdade e compromisso.

Colaboração como cultura organizacional

Com a aceleração do fluxos de informações, os pilares das hierarquias rígidas tradicionais estão se fragmentando e, como consequência, há mudanças nas estruturas organizacionais, assim como a dinâmica de trabalho e comportamentos. Compreendendo a influência da cultura organizacional no cenário de mudanças e execução destas, a teoria de economia colaborativa de Deheinzelin sobre vai de encontro com o sistema Wirearchy (Jon Husband), “um fluxo bidirecional dinâmico de poder e autoridade, baseado em conhecimento, confiança, credibilidade e foco em resultados, possibilitados por pessoas e tecnologia interconectadas”. Em outras palavras, é um princípio organizador utilizado para entender, instanciar e agir com eficácia inserido no mundo em rede.

A partir dos padrões, o sistema exprime como atividades humanas intencionais e estruturas estão evoluindo para o desenvolvimento de ideias e inovações, canalizando tempo, energia, autoridade e recursos para testar novas possibilidades. Dessa forma, diferentes dimensões e dinâmicas de influências são transformadas, onde poder e controle perdem espaço para redes de propósitos interconectadas. Dentre as tendências inseridas nessa nova gestão organizacional, destacamos a sociologia fundamental do trabalho em rede, onde a responsabilidade individual impacta o coletivo na mesma proporção.

À vista disso, dentro de um mundo avançado tecnologicamente, o Wirechay estimula atividades humanas como conhecimento, credibilidade, foco em resultados e confiança, no contexto de pessoas conectadas, para criação de um valor tangível perceptível e, consequentemente, a geração de valor socioeconômico.

img-mapamental-colaboracao.png
 

Diante dessa rede de conexões formadas ao longo do artigo, compreende-se que a percepção do “eu” e do coletivo é fundamental para que a colaboração seja uma realidade. Com novas economias, o valor agregado ultrapassa o produto físico; a reputação e confiança ganham espaço no mercado. A propaganda é substituída por comunidades e conexões sólidas onde a autorregulação é a base nas relações por meio de uma comunicação eficaz que transmite o valor dentro das organizações; a posse e competição perdem espaço para o acesso, compartilhamento e colaboração.